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quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Assange: A manipulação de informações pela mídia é mais perigosa à democracia do que a de governos

"Não somos uma organização exclusivamente da esquerda. Somos uma
organização exclusivamente pela verdade e pela justiça".

Essa é apenas uma das muitas afirmações feitas pelo fundador e
publisher do WikILeaks, Julian Assange, em entrevista exclusiva a
internautas brasileiros. Essa iniciativa só foi possível graças à ação
articulada da blogosfera e, claro, aos internautas que enviaram
questões.

No total foram cerca de 350 perguntas, das quais doze foram
escolhidas. Na entrevista, Assange explica por que trabalha em
parceria com a grande mídia e debate a manipulação de informação e
como o vazamento de dados pode alterar a atuação dos governos.

Vários internautas - O WikiLeaks tem trabalhado com veículos da grande
mídia – aqui no Brasil, Folha e Globo, vistos por muita gente como
tendo uma linha política de direita. Mas além da concentração da
comunicação, muitas vezes a grande mídia tem interesses próprios. Não
é um contra-senso trabalhar com eles se o objetivo é democratizar a
informação? Por que não trabalhar com blogs e mídias alternativas?

Por conta de restrições de recursos ainda não temos condições de
avaliar o trabalho de milhares de indivíduos de uma vez. Em vez disso,
trabalhamos com grupos de jornalistas ou de pesquisadores de direitos
humanos que têm uma audiência significativa. Muitas vezes isso inclui
veículos de mídia estabelecidos; mas também trabalhamos com alguns
jornalistas individuais, veículos alternativos e organizações de
ativistas, conforme a situação demanda e os recursos permitem.

Uma das funções primordiais da imprensa é obrigar os governos a
prestar contas sobre o que fazem. No caso do Brasil, que tem um
governo de esquerda, nós sentimos que era preciso um jornal de
centro-direita para um melhor escrutínio dos governantes. Em outros
países, usamos a equação inversa. O ideal seria podermos trabalhar com
um veículo governista e um de oposição.

Marcelo Salles – Na sua opinião, o que é mais perigoso para a
democracia: a manipulação de informações por governos ou a manipulação
de informações por oligopólios de mídia?

A manipulação das informações pela mídia é mais perigosa, porque
quando um governo as manipula em detrimento do público e a mídia é
forte, essa manipulação não se segura por muito tempo. Quando a
própria mídia se afasta do seu papel crítico, não somente os governos
deixam de prestar contas como os interesses ou afiliações perniciosas
da mídia e de seus donos permitem abusos por parte dos governos. O
exemplo mais claro disso foi a Guerra do Iraque em 2003, alavancada
ela grande mídia dos Estados Unidos.

Eduardo dos Anjos – Tenho acompanhado os vazamentos publicados pela
sua ONG e até agora não encontrei nada que fosse relevante, me parece
que é muito barulho por nada. Por que tanta gente ao mesmo tempo
resolveu confiar em você? E por que devemos confiar em você?

O WikiLeaks tem uma história de quatro anos publicando documentos.
Nesse período, até onde sabemos, nunca atestamos ser verdadeiro um
documento falso. Além disso, nenhuma organização jamais nos acusou
disso. Temos um histórico ilibado na distinção entre documentos
verdadeiros e falsos, mas nós somos, é claro, apenas humanos e podemos
um dia cometer um erro. No entanto até o momento temos o melhor
histórico do mercado e queremos trabalhar duro para manter essa boa
reputação.

Diferente de outras organizações de mídia que não têm padrões claros
sobre o que vão aceitar e o que vão rejeitar, o WikiLeaks tem uma
definição clara que permite às nossas fontes saber com segurança se
vamos ou não publicar o seu material.

Aceitamos vazamentos de relevância diplomática, ética ou histórica,
que sejam documentos oficiais classificados ou documentos suprimidos
por alguma ordem judicial.

Vários internautas – Que tipo de mudança concreta pode acontecer como
consequência do fenômeno Wikileaks nas práticas governamentais e
empresariais? Pode haver uma mudança na relação de poder entre essas
esferas e o público?

James Madison, que elaborou a Constituição americana, dizia que o
conhecimento sempre irá governar sobre a ignorância. Então as pessoas
que pretendem ser mestras de si mesmas têm de ter o poder que o
conhecimento traz. Essa filosofia de Madison, que combina a esfera do
conhecimento com a esfera da distribuição do poder, mostra as mudanças
que acontecem quando o conhecimento é democratizado.

Os Estados e as megacorporações mantêm seu poder sobre o pensamento
individual ao negar informação aos indivíduos. É esse vácuo de
conhecimento que delineia quem são os mais poderosos dentro de um
governo e quem são os mais poderosos dentro de uma corporação.

Assim, o livre fluxo de conhecimento de grupos poderosos para grupos
ou indivíduos menos poderosos é também um fluxo de poder, e portanto
uma força equalizadora e democratizante na sociedade.

Marcelo Träsel - Após o Cablegate, o Wikileaks ganhou muito poder.
Declarações suas sobre futuros vazamentos já influenciaram a bolsa de
valores e provavelmente influenciam a política dos países citados
nesses alertas. Ao se tornar ele mesmo um poder, o Wikileaks não
deveria criar mecanismos de auto-vigilância e auto-responsabilização
frente à opinião pública mundial?

O WikiLeaks é uma das organizações globais mais responsáveis que existem.

Prestamos muito mais contas ao público do que governos nacionais,
porque todo fruto do nosso trabalho é público. Somos uma organização
essencialmente pública; não fazemos nada que não contribua para levar
informação às pessoas.

O WikiLeaks é financiado pelo público, semana a semana, e assim eles
"votam" com as suas carteiras.

Além disso, as fontes entregam documentos porque acreditam que nós
vamos protegê-las e também vamos conseguir o maior impacto possível.
Se em algum momento acharem que isso não é verdade, ou que estamos
agindo de maneira antiética, as colaborações vão cessar.
O WikiLeaks é apoiado e defendido por milhares de pessoas generosas
que oferecem voluntariamente o seu tempo, suas habilidades e seus
recursos em nossa defesa. Dessa maneira elas também "votam" por nós
todos os dias.

Daniel Ikenaga – Como você define o que deve ser um dado sigiloso?

Nós sempre ouvimos essa pergunta. Mas é melhor reformular da seguinte
maneira: "quem deve ser obrigado por um Estado a esconder certo tipo
de informação do resto da população?"

A resposta é clara: nem todo mundo no mundo e nem todas as pessoas em
uma determinada posição. Assim, o seu médico deve ser responsável por
manter a confidencialidade sobre seus dados na maioria das
circunstâncias – mas não em todas.

Vários internautas – Em declarações ao Estado de São Paulo, você disse
que pretendia usar o Brasil como uma das bases de atuação do
WikiLeaks. Quais os planos futuros? Se o governo brasileiro te
oferecesse asilo político, você aceitaria?

Eu ficaria, é claro, lisonjeado se o Brasil oferecesse ao meu pessoal
e a mim asilo político. Nós temos grande apoio do público brasileiro.
Com base nisso e na característica independente do Brasil em relação a
outros países, decidimos expandir nossa presença no país. Infelizmente
eu, no momento, estou sob prisão domiciliar no inverno frio de
Norfolk, na Inglaterra, e não posso me mudar para o belo e quente
Brasil.

Vários internautas – Você teme pela sua vida? Há algum mecanismo de
proteção especial para você? Caso venha a ser assassinado, o que vai
acontecer com o WikiLeaks?

Nós estamos determinados a continuar a despeito das muitas ameaças que
sofremos. Acreditamos profundamente na nossa missão e não nos
intimidamos nem vamos nos intimidar pelas forças que estão contra nós.

Minha maior proteção é a ineficácia das ações contra mim. Por exemplo,
quando eu estava recentemente na prisão por cerca de dez dias, as
publicações de documentos continuaram.

Além disso, nós também distribuímos cópias do material que ainda não
foi publicado por todo o mundo, então não é possível impedir as
futuras publicações do WikiLeaks atacando o nosso pessoal.

Helena Vieira - Na sua opinião, qual a principal revelação do
Cablegate? A sua visão de mundo, suas opiniões sobre nossa atual
realidade mudou com as informações a que você teve acesso?

O Cablegate cobre quase todos os maiores acontecimentos, públicos e
privados, de todos os países do mundo – então há muitas revelações
importantíssimas, dependendo de onde você vive. A maioria dessas
revelações ainda está por vir.

Mas, se eu tiver que escolher um só telegrama, entre os poucos que eu
li até agora – tendo em mente que são 250 mil – seria aquele que pede
aos diplomatas americanos obter senhas, DNAs, números de cartões de
crédito e números dos vôos de funcionários de diversas organizações –
entre elas a ONU.

Esse telegrama mostra uma ordem da CIA e da Agência de Segurança
Nacional aos diplomatas americanos, revelando uma zona sombria no
vasto aparato secreto de obtenção de inteligência pelos EUA.

Tarcísio Mender e Maiko Rafael Spiess - Apesar de o WikiLeaks ter
abalado as relações internacionais, o que acha da Time ter eleito Mark
Zuckerberg o homem do ano? Não seria um paradoxo, você ser o
"criminoso do ano", enquanto Mark Zuckerberg é aplaudido e laureado?

A revista Time pode, claro, dar esse título a quem ela quiser. Mas
para mim foi mais importante o fato de que o público votou em mim numa
proporção vinte vezes maior do que no candidato escolhido pelo editor
da Time. Eu ganhei o voto das pessoas, e não o voto das empresas de
mídia multinacionais. Isso me parece correto.

Também gostei do que disse (o programa humorístico da TV americana)
Saturday Night Live sobre a situação: "Eu te dou informações privadas
sobre corporações de graça e sou um vilão. Mark Zuckerberg dá as suas
informações privadas para corporações por dinheiro – e ele é o 'Homem
do Ano'."

Nos bastidores, claro, as coisas foram mais interessantes, com a
facção pró-Assange dentro da revista Time sendo apaziguada por uma
capa bastante impressionante na edição de 13 de dezembro, o que abriu
o caminho para a escolha conservadora de Zuckerberg algumas semanas
depois.

Vinícius Juberte – Você se considera um homem de esquerda?

Eu vejo que há pessoas boas nos dois lados da política e
definitivamente há pessoas más nos dois lados. Eu costumo procurar as
pessoas boas e trabalhar por uma causa comum.

Agora, independente da tendência política, vejo que os políticos que
deveriam controlar as agências de segurança e serviços secretos
acabam, depois de eleitos, sendo gradualmente capturados e se tornando
obedientes a eles.

Enquanto houver desequilíbrio de poder entre as pessoas e os
governantes, nós estaremos do lado das pessoas.

Isso é geralmente associado com a retórica da esquerda, o que dá
margem à visão de que somos uma organização exclusivamente de
esquerda. Não é correto. Somos uma organização exclusivamente pela
verdade e justiça – e isso se encontra em muitos lugares e tendências.

Ariely Barata – Hollywood divulgou que fará um filme sobre sua
trajetória. Qual sua opinião sobre isso?

Hollywood pode produzir muitos filmes sobre o WikiLeaks, já que quase
uma dúzia de livros está para ser publicada. Eu não estou envolvido em
nenhuma produção de filme no momento.

Mas se nós vendermos os direitos de produção, eu vou exigir que meu
papel seja feito pelo Will Smith. O nosso porta-voz, Kristinn
Hrafnsson, seria interpretado por Samuel L Jackson, e a minha bela
assistente por Halle Berry. E o filme poderia se chamar "WikiLeaks
Filme Noire".

Fonte: http://www.viomundo.com.br/entrevistas/julian-assange-a-manipulacao-de-informacoes-pela-midia-e-mais-perigosa-a-democracia-do-que-a-feita-por-governos.html

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Nostalgia do trabalho

Thomaz Wood Jr.

23 de janeiro de 2011 às 10:58h

Ao longo dos séculos, o trabalho passou por várias mutações. A Grécia Antiga não o tinha em alta conta: seus luminares o consideravam um inimigo da virtude, a brutalizar a mente dos homens e inutilizá-los para as atividades mais nobres: a política e a filosofia. O Renascimento recuperou o valor do trabalho e elegeu seu herói: o mestre artesão, capaz de dele extrair sustento e arte.

No entanto, foi com a Revolução Industrial que o trabalho atingiu o seu apogeu, sendo celebrado como motor da modernização e da transformação do mundo. Hoje, a nossa sociedade tem outros deuses: cultua mais o consumo do que a produção, valoriza mais a imagem do que o fato, celebra mais o cargo do que o batente.
Significativamente, surgem aqui e acolá nostálgicos da velha ordem. Notem, por exemplo, a proliferação de profissionais bem-sucedidos com “hobbies sérios” ou “atividades paralelas”. Parece estar crescendo o número de médicos pintores, financistas carpinteiros e engenheiros moveleiros. Como se não bastassem as longas e estressantes jornadas de trabalho, muitos profissionais mostram-se ávidos em localizar espaço na agenda para desenvolver e exercitar suas competências manuais. Sintomático!
O norte-americano Matthew B. Crawford seguiu os passos do sucesso ditados pela nova sociedade da informação: obteve um Ph.D. na Universidade de Chicago e conseguiu emprego em um think tank em Washington, D.C. Entretanto, não demorou para se desiludir com a manipulação de ideias e se frustrar com o restrito uso de seu intelecto. Então, retornou algumas décadas na tecnologia e dois séculos na organização do trabalho: foi montar uma oficina de reparos de motocicletas antigas. No livro Shop Class as Soulcraft An Inquiry Into the Value of Work (The Penguin Press, 2009), Crawford narra sua saga e defende seus argumentos.

O autor parte da constatação de que uma mudança substantiva está em curso: o que antes fazíamos, agora compramos pronto; o que antes consertávamos, agora substituímos. Estamos, com isso, perdendo nossas habilidades manuais e nos tornando mais passivos e dependentes. Pior: estamos também perdendo alguns fatores intrínsecos de satisfação do trabalho.

Para Crawford, o retorno ao artesanato, como mecânico de motocicletas, devolveu-lhe o verdadeiro sentido do trabalho. Primeiro, porque o resultado é claramente visível e reconhecido pelo cliente. Segundo, porque o trabalho envolve operações cognitivas complexas que dependem de conhecimento prático e experiência acumulada. Terceiro, porque sua posição lhe confere um lugar na comunidade.

O autor argumenta que quem trabalha mais próximo dos fenômenos naturais consegue estabelecer correlações e princípios mais coerentes, enquanto quem lida permanentemente com abstrações e ignora a matéria-prima da realidade tende a gerar dogmas com base em poucas observações. Para o autor, o conserto de motocicletas envolve raciocínio mais amplo e complexo do que o trabalho no think tank, o contrário do que apontaria o senso comum.
Mas qual a raiz da desvalorização do trabalho artesanal? Segundo os manuais de gestão, o ponto de inflexão deu-se pela consolidação da linha de produção fordista e pela disseminação dos princípios de administração científica, que ocorreram no início do século XX. Esses fenômenos gêmeos aumentaram significativamente a produtividade, reduziram custos de manufatura e criaram as bases para a sociedade de produção e consumo em massa. Como efeito colateral, eles marginalizaram o trabalho artesanal. A separação entre o planejamento do trabalho (realizado por especialistas e gerentes) e a execução do trabalho (realizado mecanicamente por operários) destruiu algumas características que proviam satisfação intrínseca ao trabalho.

Esse movimento, que começou na indústria, avança agora firme no setor de serviços. Os bancos, as seguradoras e os hospitais têm processos que estão sendo cientificamente racionalizados, como se fossem linhas de produção. A separação que ocorreu com o trabalho industrial está agora ocorrendo com o trabalho no setor de serviços: enquanto os gestores se atolam em reuniões, PowerPoints e ­e-mails, o trabalho nos porões das centrais de atendimento e nos centros de serviços sofre forte padronização e rotinização.

Crawford é claro em sua valorização dos laços morais que ligam os trabalhadores ao seu trabalho e os empreendedores aos seus consumidores, laços que não deveriam ser tão prontamente sacrificados no altar da eficiência e do crescimento. O esfacelamento desses laços desencoraja a prudência e pode provocar efeitos nefastos. Não faltam recalls de produtos ou crises financeiras para ilustrar o argumento.

fonte: http://www.cartacapital.com.br/economia/nostalgia-do-trabalho

Conversando com os computadores : Steve Wozniak, cofundador da Apple, acredita que o computador se tornará o melhor amigo das pessoas

'Conversaremos com os computadores como se fossem pessoas'


23 de janeiro de 2011 | 23h 00

Alexandre Matias, de O Estado de S. Paulo

SÃO PAULO - Ele hipnotizou centenas de participantes da Campus Party ao contar sua trajetória no sábado, numa palestra que teve mais olhares atentos que a do ex-vice-presidente americano Al Gore, na terça-feira. Não era para menos: não bastasse ser um dos maiores nomes da história da computação, a história de Steve Wozniak, cofundador da Apple, é muito parecida com a da maioria dos participantes do evento que terminou ontem. Um nerd por excelência, o ex-parceiro de Steve Jobs falou ao público sobre a importância do bom humor e da paixão quando se quer escolher qualquer tipo de carreira enquanto contava a todos como inventou o computador como o conhecemos hoje. Antes da apresentação, Wozniak falou ao Estado sobre outro assunto: o futuro da computação pessoal.

Em 2010, assistimos à entrada de dois novos aparelhos no mercado que causaram impacto na história da computação: o iPad, da Apple, e o Kinect, da Microsoft. Ambos são computadores pessoais, mas não são como o computador pessoal que o sr. Concebeu.


g>ClarClaro, apesar de que as maiores mudanças nos computadores normalmente acontecem em novas formas de interação entre o ser humano e eles. É a forma como nós usamos nossos corpos, nossa visão... E essas formas de interação estão ficando cada vez mais humanas do que eram anteriormente. Acho que essa tendência vai continuar para sempre. Os computadores do futuro vão permitir diálogos como se eles fossem pessoas de verdade. Eu não acho que o reconhecimento de voz já está nesse ponto, mas tenho tantos aplicativos nos meus telefones que funcionam tão bem só com a voz que eu não quero voltar a seguir determinados procedimentos ou digitar comandos...

...Nem sequer usar o mouse.

Eu não quero usar o mouse, não quero usar o teclado, eu não quero ter de dizer para o computador que ele deve rodar um determinado programa. Eu só quero dizer: "Faça uma reserva para seis pessoas hoje à noite numa determinada churrascaria nesta cidade aqui". E quando você faz as coisas de forma humana, você não faz a mesma coisa sempre do mesmo jeito, você não diz a mesma frase exatamente do mesmo jeito todas as vezes que fala. Por isso, o reconhecimento de voz deve entender que você fala a mesma coisa de várias formas diferentes. E você não precisa mais se preocupar com erros de digitação se os comandos são pela voz. Então é realmente maravilhoso poder dizer... "Bom Deus" (suspira, como se estivesse aliviado). As partes complicadas dos computadores vão ficar para trás, até chegarmos a um ponto em que ele poderá olhar no meu rosto e dizer se estou cansado.

Então o sr. acha que tanto iPad e Kinect quanto os celulares atuais são estágios intermediários rumo a um outro tipo de computador ainda melhor?

Sim, são ótimos estágios, como o próprio computador pessoal também foi. O PC só foi possível porque um certo tipo de tecnologia tornou-se disponível a um certo preço. E o mesmo aconteceu com outros tipos de tecnologia para que o iPad se tornasse viável: a tecnologia flash NAND para armazenamento de dados, fazendo com que não fossem necessárias peças enormes que consumiriam muita energia; a tecnologia de telas sensíveis ao toque, telas de alta resolução, baterias leves... Muitas dessas tecnologias vêm ao mesmo tempo, a um preço acessível, e permitem que determinados produtos façam sentido.

Há uma frase que diz que a tecnologia funciona de verdade quando as pessoas nem sequer percebem que a estão utilizando. O sr. acha que chegaremos a um ponto em que a tecnologia não será nem vista pelas pessoas?

É difícil negar isso, mas também é difícil pensar em exemplos para hoje em dia. Será que eu vou ter pequenos implantes nos meus olhos que farão que eu veja o mundo da forma como determinada tecnologia quer que eu veja? Se for assim, quem está no controle? Estamos ficando cada vez mais dependentes da nossa tecnologia de forma que nem podemos desligá-la. Se nós pudermos desligá-la, estamos no controle; mas não podemos mais. E se tivermos carros que dirigem sozinhos? Uau, cara... Nós temos de ir, temos de confiar nisso, mas podemos chegar ao ponto em que a tecnologia talvez não precise mais da gente.

E aí, como vimos em filmes de ficção científica, pode ser que a tecnologia queira descartar o fator humano, pois atrapalha...

É o que eu estou sugerindo - e isso já está acontecendo, mais do que podemos admitir. Quando as coisas acontecem devagar, você não as percebe acontecendo, mas quando estamos numa curva exponencial, as coisas podem mudar de uma vez só. Você consegue desligar seu computador? Consegue se desconectar da internet, desligar seu celular? Por quanto tempo? Por um ano? E se conseguir, que tipo de vida terá? E se todos resolverem fazer isso? Seria uma vida bem diferente da que levamos agora.

Mas até chegarmos a esse estágio, a tecnologia terá de evoluir bastante. Que estágios deveremos percorrer nos próximos dez anos?

Num futuro próximo, não muito próximo, mas também não muito distante, se tornará bem difícil saber se você está lidando com um computador ou com uma pessoa de verdade. E será tão bom: falar, entender, combinar palavras e deixar que o computador faça o reconhecimento das palavras e até crie um tipo de relacionamento com as pessoas...

Mas o sr. acha que no futuro teremos amigos digitais?

A ficção científica quase sempre fala em guerra entre homens e máquinas, quem será o vencedor, mas eu acho que criamos a tecnologia para melhorar nossas vidas. Estamos lidando com ela gradualmente, não há nenhuma batalha. Criamos a coisa mais próxima do cérebro humano que é a internet. Antes, perguntávamos para uma pessoa sábia quando precisávamos saber de alguma coisa, agora temos a busca do Google. Isso significa que parte de nosso cérebro já está fora de nossas cabeças, porque a internet cresceu tanto e nós não a criamos para ser um cérebro. Criamos a internet para colocar as pessoas em contato individualmente - e quando havia bilhões de pessoas em contato entre si, de repente, ela criou essa capacidade de funcionar como um cérebro.

E isso não assusta?

Não, porque você não se assusta com isso. Não passamos por uma fase de medo. Nós simplesmente aceitamos que o Google seja mais inteligente do que qualquer pessoa que conheçamos. Todos nós aceitamos.

Não é assustador pensar em um futuro em que as pessoas terão apenas amigos digitais?

Quando cresci eu era muito tímido, era um outsider. Eu ficava de fora de conversas normais, dos ritos sociais. E não tinha com quem falar. Tinha receio. Em todo lugar que eu ia, tentava ser o mais discreto, falar o mínimo possível, fazer o meu trabalho e cair fora. Agora esse mesmo tipo de pessoa passa o dia inteiro em seu quarto com um computador, com as portas fechadas, e tem relações sociais com pessoas de qualquer lugar do mundo, mesmo que sejam com pessoas tão restritas socialmente quanto ele.

Mas não existem pessoas digitais hoje em dia.

Imagine você se apaixonar por alguém que você não sabe se é uma pessoa ou um robô. Oh, cara (ri)... Mas eu não acho que isso vai acontecer. Mas há quem se apaixone por seus computadores, então tudo bem.

E como será o computador do futuro?

A questão é em quanto tempo no futuro... Eu acho que teremos um tipo de computador que, quando um aluno for para a escola, ele quer ficar com aquele computador como se fosse seu melhor amigo, que sabe tudo sobre ele, seus sentimentos, crenças e filosofias, mais do que um professor humano. Não consigo chutar em quantos anos isso acontecerá... Dez, vinte, trinta... Mas eu não estou falando em cem anos...

O que o sr. achou da Campus Party?

Eu fui a algumas outras Campus Party e percebi que esse tipo de evento seria onde eu estaria se eu estivesse crescendo hoje. Sendo eu o tipo de pessoa que sou, que acredita no que eu acredito, nos meus computadores, na interação com outras pessoas parecidas. Eu estaria aqui, eu seria um campuseiro. Eis a grande atração: jovens cheios de ideias que querem explorar o que eles querem estar fazendo neste mundo dos computadores, o que isso vai significar para eles, o quanto isso é importante para eles, que mudanças e diferenças eles podem fazer...

As pessoas aqui falam em "orgulho nerd".

Fico tão feliz em ouvir isso! Foi a melhor coisa que eu ouvi durante todo o dia de hoje! Há um tipo de evento que acontece tanto nos EUA quanto em alguns outros países chamado First Robotics. São times de segundo grau que constroem robôs, que são meio caros, do tamanho de pessoas, e eu vou julgar esses concursos sempre que posso. É um dia em que eles são tão importantes quanto os astros do cinema, os jogadores de futebol ou qualquer tipo de celebridade. É quando os geeks têm seu dia!

Ponto de mutação


Um político estadunidense (Jack Edwards, interpretado por Sam Waterston) vai à França visitar um velho amigo poeta (Thomas Harriman, interpretado por John Heard). Lá, conhecem uma cientista (Sonia Hoffman, interpretada por Liv Ullman) e, juntos, tecem uma profunda discussão sobre questões existenciais. Filme baseado na obra "The Turning Point" (O ponto de Mutação), de Fritjof Capra.

domingo, 23 de janeiro de 2011

Ilha da Gigoia - Barra da Tijuca (adiada para semana que vem)

Estaremos transmitindo em tempo real imagens da Ilha da Gigoia..acompanhe por aqui

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Longe dos olhos

Blog do Mello
Classe mérdia tem uma solução para tudo: 'Basta tirá-los dali'

Mendigos nas ruas? - Basta tirá-los dali. Menores consumindo crack? - Basta tirá-los dali. Prostitutas na calçada? - Basta tirá-las dali. Excesso de carros nas ruas? - Basta tirá-los dali. Sem terra invadindo terras improdutivas? - Basta tirá-los dali. Sem teto invadindo prédios desocupados? - Basta tirá-los dali. Moradores em áreas de risco? - Basta tirá-los dali. Favelas? - Basta tirá-los dali.

E colocar onde?

Isso não querem saber: acham que políticos foram eleitos para isso. Querem que eles façam o serviço sujo.

Os últimos acontecimentos no Rio e em SP mostram que à direita e à esquerda muitos querem a solução simplista da classe mérdia: - Basta tirá-los dali. Mesmo que para isso seja necessário chamar a polícia.

Ou seja: mendigos, sem-teto, sem terra, prostitutas, drogados, todos são caso de polícia.

Não são não. Polícia é para quem precisa de polícia. Eles precisam é de política com P maiúsculo: política social, inclusão. Cidadania. Não temos que tirá-los dali. Temos que incluí-los aqui.

Somos humanos; isso, em suma, é o que somos

Leia mais em: O Esquerdopata
Under Creative Commons License: Attribution

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Trãnsparência na Biblia

Não há nada escondido que não venha a ser revelado, nem oculto que não venha a se tornar conhecido“
Lucas, 8:17,12:2
Mateus 10:26:

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Singularity University cria nova maneira de ensinar

Nicolelis: “Einstein não seria pesquisador A1 do CNPq”

Integração entre cérebro e máquinas vai influenciar evolução
Para Nicolelis, corpo não vai mais limitar ação da mente sobre o mundo. Pesquisador também comenta os desafios impostos à ciência no País pela burocracia e desorganização
Alexandre Gonçalves, de O Estado de S. Paulo, via Plano Brasil

Miguel Nicolelis é um dos pesquisadores brasileiros de maior prestígio. Pioneiro nos estudos sobre interface cérebro-máquina, suas descobertas aparecem na lista das dez tecnologias que devem mudar o mundo, divulgada em 2001 pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, na sigla em inglês). Em 2009, tornou-se o primeiro brasileiro a merecer uma capa da Science. Na quarta-feira, foi nomeado membro da Pontifícia Academia de Ciências, no Vaticano. Ao Estado, Nicolelis falou sobre o impacto da neurociência no futuro da humanidade. Criticou de forma contundente a gestão científica no País, especialmente em São Paulo. Também questionou os critérios – marcadamente políticos – que teriam norteado a escolha do ministro da Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante.

Para onde a neurociência deve nos levar nos próximos anos?

No curto prazo, penso que as principais aplicações serão na medicina com novos métodos de reabilitação neurológica, para tratar condições como paralisia. No médio, chegarão as aplicações computacionais. Nossa relação com as máquinas será completamente diferente: não usaremos mais teclados, monitores, mouse… o computador convencional deixará de existir. Vamos submergir em sistemas virtuais e nos comunicaremos diretamente com eles.
No longo prazo, o corpo deixará de ser o fator limitante da nossa ação no mundo. Nossa mente poderá atuar com máquinas que estão à distância e operar dispositivos de proporções nanométricas ou gigantescas: de uma nave espacial a uma ferramenta que penetra no espaço entre duas células para corrigir um defeito. E, no longuíssimo prazo, a evolução humana vai se acelerar. Nosso cérebro roubará um pouco o controle que os genes têm hoje. Daqui a três meses, publicarei um livro em que comento estes temas.

O que você chama de curto, médio, longo e longuíssimo prazo?

Curto prazo são os próximos anos. Médio prazo, nas próximas duas décadas. Longo prazo, no próximo século. Longuíssimo prazo, alguns milhares de anos.
Como andam suas linhas de pesquisa na medicina?
Estamos avançando rapidamente no exoesqueleto (um dispositivo que dá sustentação ao corpo de uma pessoa paralisada e é capaz de mover-se obedecendo ao controle da mente). Está sendo desenvolvido na Alemanha. Para o treinamento dos pacientes, construímos salas virtuais onde pessoas paralisadas terão sua atividade cerebral registrada de forma não-invasiva por magneto-encefalógrafos. Vamos ver se elas aprendem a controlar com o pensamento os movimentos de um corpo virtual – um avatar que simula o exoesqueleto. Com uma pessoa tetraplégica será mais fácil, pois é justificável o uso de métodos invasivos como implantar os eletrodos dois milímetros e meio dentro do cérebro. As descobertas vitais já foram feitas. Nosso drama agora é engenharia e conseguir recursos para pagar um projeto que é o equivalente, na neurociência, a uma viagem à Lua.
Outra linha de pesquisa importante em medicina é Parkinson. No ano passado, publicamos um trabalho na Science. Estimulamos com eletricidade a medula espinhal de ratos com Parkinson e conseguimos reverter o congelamento motor característico da doença. Há um milhão de fibras na medula espinhal que sobem para o cérebro. Mandamos uma descarga de alta frequência que chega aos centros motores profundos do cérebro e faz com que eles saiam da sincronia absoluta característica da doença, pois estão todos disparando impulsos nervosos ao mesmo tempo, de um modo semelhante ao que ocorre em uma crise epiléptica. O sinal elétrico tem um efeito caótico que quebra a crise.
Também temos resultados preliminares em macacos obtidos aqui em Natal. Infelizmente, o Hospital Sírio-Libanês não quer continuar a parceria com nosso instituto. Por isso, procuramos outro hospital de grande porte, público ou privado, onde possamos realizar os testes clínicos, talvez já no próximo ano. Gostaria muito de marcar que a tradução dessa pesquisa para a prática clínica aconteceu aqui no Brasil, pois acredito que a Medicina brasileira é a melhor do mundo. Estou propondo uma nova teoria que vai provavelmente acabar com minha carreira (risos). Acredito que não há distinção entre doenças neurológicas e psiquiátricas: todas elas são doenças temporais, relacionadas ao tempo dos neurônios, ou seja, variantes epilépticas. A única doença do cérebro que existe realmente seria uma epilepsia. Já publicamos três trabalhos este ano com modelos de doenças ditas psiquiátricas e, em todas, encontramos uma assinatura temporal que permite classificá-las como distúrbios do tempo, epilépticos. A ideia surgiu quando vi os registros eletrofisiológicos de ratos com Parkinson e eles lembraram muito os registros de uma crise epiléptica central que conheci quando era estudante.

No médio prazo, ainda precisaremos dos nossos sentidos para dialogar com sistemas computacionais?

Em breve, vamos publicar um trabalho descrevendo o envio do sinal de uma máquina diretamente ao tecido neural de um animal, sem mediação dos sentidos: na prática, criamos um sexto sentido. Vai ser uma novidade explosiva, mas não posso dar mais detalhes, pois o artigo ainda não foi publicado. A internet como conhecemos vai desaparecer. Teremos uma verdadeira rede cerebral. A comunicação não será mediada pela linguagem, que deixará de ser o principal canal de comunicação. Para entender isso, basta pensar que toda linguagem é um comportamento motor – como mexer o braço. Esse comportamento motor também poderá ser decodificado e transmitido. Grandes empresas – como Google, Intel, Microsoft – já tem suas divisões de interface cérebro-máquina.


Quais as implicações antropológicas e sociológicas no longo prazo?

Talvez o primeiro impacto será descobrir que somos todos muito parecidos: as pretensas diferenças entre grupos de seres humanos vão se reduzir pois todos perceberão que somos iguais. Costumo dizer que será a verdadeira libertação da mente do corpo, porque será ela quem determinará nosso alcance e potencial de ação na natureza. O corpo permanecerá para manter a mente viva, mas não precisará atuar fisicamente. Nossa mente cria as ferramentas e as absorve como extensão do nosso corpo. Agora, a mente vai controlar diretamente as ferramentas. O que definimos como ser mudará drasticamente no próximo século.

De que modo a evolução poderá ser influenciada pelo cérebro?

O processo de seleção natural vai agir de uma forma muito mais rápida. Em um mundo onde as pessoas terão de atuar com a atenção dividida entre múltiplas ferramentas, os atributos evolucionais necessários para sobreviver mudam. A mente que consegue controlar vários processos de forma eficaz tem uma vantagem evolucional sobre as outras. Há uma base genética para essa facilidade. À medida que gente com essa vantagem se reproduz mais que os outros, ocorre seleção. Várias pessoas – como os biólogos evolucionistas Richard Dawkins e Stephen Jay Gould – previram que o cérebro passaria a ter um papel mais fundamental na evolução. Mas creio que estamos acelerando este papel. Os neandertais acordaram um dia e encontraram o Homo sapiens jogando bola na esquina da casa deles. Um dia, um sujeito pode acordar e se dar conta de que ele já não pertence mais à espécie dos pais. Mas estamos falando de milênios aqui.

Sua abordagem para criar uma interface cérebro-maquina foi listada pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, na sigla em inglês) como uma das dez tecnologias que vão mudar o mundo. Como ela surgiu?

Nós – eu e o neurocientista John Chapin – elaboramos um experimento para contestar a doutrina neuronal dominante no século 20 – que rendeu vários prêmios Nobel. Esta teoria estabelecia o neurônio como unidade funcional do sistema nervoso. Nós provamos que a unidade funcional é uma população de células. Um neurônio isolado – que sozinho constitui, de fato, uma unidade anatômica e computacional – não consegue reunir informação suficiente para gerar comportamento, principal função do cérebro. No fim da década de 80, tivemos a ideia de ligar um cérebro de rato a um robô para mostrar que mesmo o neurônio mais fenomenal não gera movimento. Mas, quando registrávamos populações de cinquenta neurônios – mesmo escolhendo-os de forma aleatória -, o animal conseguia movimentar o braço mecânico como se fosse o seu próprio. Não esperávamos um impacto tão grande. Construímos o primeiro centro de neuroengenharia do mundo na Universidade Duke. Agora, qualquer oficina de fundo de quintal nos Estados Unidos tem um centro de neuroengenharia. Há uma explosão de iniciativas no mundo inteiro: Japão, Suíça, Brasil…

Quais os principais desafios para aprimorar essa tecnologia?

Conseguimos registrar hoje cerca de 600 neurônios. Nos próximos dois anos, vamos chegar a 60 mil graças a uma inovadora tecnologia de eletrodos tridimensionais. De qualquer forma, é um método invasivo, o que restringe seu uso. Ninguém vai inserir eletrodos no cérebro para brincar com jogos na internet. Precisamos descobrir técnicas não-invasivas, mas que tenham a mesma resolução para registrar os neurônios.

O que é “registrar neurônios”?

Colocamos eletrodos no cérebro e registramos a atividade elétrica dos neurônios. Se você colocar os dados obtidos pelos eletrodos em uma tela de computador, não vai entender nada. É como olhar um programa binário de computador. Há uma mensagem codificada ali, mas com um código que está mudando continuamente, pois o cérebro é um sistema auto-adaptativo: cada vez que você faz alguma coisa, ele muda. Precisávamos descobrir um modo de extrair a informação motora dessas salvas de eletricidade que são, na realidade, padrões espaço-temporais que variam com o tempo. De início, parecia ruído… em boa medida, porque é mesmo ruído Poisson, como costumamos chamar. Mas percebemos que, com métodos de regressão linear, conseguíamos obter a informação. A partir daí, deixamos o próprio cérebro atuar como nosso computador: ele resolvia o sistema de equações lineares e encontrava um equilíbrio ótimo que aproveitávamos para estabelecer a interface.

O que você acha da política científica brasileira?

Está ultrapassada. Principalmente, a gestão científica. Foi por isso que eu escrevi o Manifesto da Ciência Tropical (PS do Viomundo: publicado primeiro aqui mesmo, neste espaço). O mais importante nós temos: o talento humano. Mas ele é rapidamente sufocado por normas absurdas dentro das universidades. Não podemos mais fazer pesquisa de forma amadora. Devemos ter uma carreira para pesquisadores em tempo integral e oferecer um suporte administrativo profissional aos cientistas.
Visitei um dos melhores institutos de física do País, na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), e o pessoal não tem suporte nenhum. Se um americano do Instituto de Física da Universidade Duke visitar os pesquisadores brasileiros, não vai acreditar. Eles tomam conta do auditório, fazem os cheques e compram as coisas, porque não é permitido ter gestores científicos com formação específica para este trabalho. Nós preferimos tirar cientistas que despontaram da academia. Aqui no Brasil há a cultura de que, subindo na carreira científica, o último passo de glória é virar um administrador do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) ou da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). É uma tragédia. Esses caras não tem formação para administrar nada. Nem a casa deles. Não temos quadros de gestores. A gente gasta muito dinheiro e presta muita atenção em besteira e não investe naquilo que é fundamental.

Qual é a diferença nos mecanismos de financiamento e gestão científica nos EUA e no Brasil?

O investimento privado e público americano – sem contar os gastos do Pentágono que, em parte, são sigilosos – é equiparável: cerca de US$ 250 bilhões anuais cada um (o equivalente a R$ 425 bilhões). Eles também enfrentam o problema de que as empresas privadas não costumam investir em pesquisa pura, meio de cultura de onde saem as ideias aplicadas. Contudo, o governo não investe só em universidades. Ele também coloca dinheiro em empresas e em institutos de pesquisa privados. Este é o segredo.
No Brasil, a grande maioria dos mecanismos públicos de financiamento está voltado para universidades públicas. Sendo assim, você não contrata cientistas e técnicos para um projeto, pois depende dos quadros da universidade. Mas esses quadros estão dando 300 horas de aula por semestre. Não dá para competir com um chinês que está em Berkeley pesquisando o dia inteiro e recebendo milhões de dólares para contratar quem ele quiser. Como fazer ciência sem gente?
Na realidade, os americanos não contam com pessoas mais capazes lá. O que eles têm de diferente é um número muito maior de pesquisadores, processos eficientes, gestão científica profissional – a melhor jamais inventada – e dinheiro. Nos Estados Unidos, sou visto como um pequeno empreendedor. Recebo dinheiro do governo americano e uma parcela menor de investimento privado. Tenho assim uma “padaria” que faz ciência: posso contratar o padeiro, o faxineiro e a atendente de acordo com as necessidades do projeto. Esse empreendedorismo não é permitido pelas leis brasileiras. As mesmas regras que regem o gasto de quaisquer dez mil réis que um cientista ganha do governo federal servem para controlar licitações de centenas de milhões de reais para a construção de estradas, hidrelétricas…
Achar que um cientista vai desviar dinheiro para fazer fortuna pessoal é absurdo. O processo de financiamento deve ser mais aberto, com mecanismos simples de auditoria. Além disso, deveria ser mais fácil importar insumos e, com o tempo, precisaríamos atrair empresas para produzi-los aqui. É um absurdo ver anticorpos apodrecerem no aeroporto de Guarulhos por causa da burocracia. Alguém no topo da pirâmide – o presidente da República ou o ministro da Ciência e Tecnologia – precisa dizer: “Chega. Acabou a brincadeira.”
É um desperdício gigantesco de talento e de dinheiro. A China está recuperando pesquisadores que emigraram para os EUA oferecendo condições de trabalho ainda melhores que as americanas. Milhares de brasileiros voltariam ao Brasil se tivessem melhores condições para trabalhar. Mas o sujeito vem para uma universidade federal e é obrigado a dar 300 horas de aula por semestre. Perdemos o talento. Além disso, ele conquista a estabilidade de forma quase automática. Que motivação vai ter para crescer? Há talentos, mas os processos são medievais. E o cientista brasileiro tem muito receito de bater de frente com as autoridades para reivindicar o que ele realmente precisa.

Quanto o Brasil deveria investir em ciência?

O Brasil precisa investir de 4% a 5% do seu Produto Interno Bruto (PIB) em ciência e tecnologia para encarar a China, a Índia, a Rússia, os Estados Unidos, a Coreia do Sul… esses são os jogadores com quem devemos nos equiparar. É o mesmo porcentual que já investimos em educação. É essencial realizar os dois investimentos: por um lado, para formar gente e iniciar a revolução educacional que o País precisa; por outro, para usar o potencial intelectual dessas pessoas na produção de algo para o País. Atualmente, investimos 1,3% do PIB. No Japão, é quase 4%. Isso explica muita coisa.
Você afirmou diversas vezes que a ciência precisa ser democratizada no País.
Sem dúvida. É uma atividade extremamente elitizada. Não temos a penetração popular adequada nas universidades. Quantos doutores são índios ou negros? A ciência deve ir ao encontro da sociedade brasileira. Essa foi uma das razões que me motivaram a escrever o manifesto. Até bem pouco tempo, a ciência era uma atividade da aristocracia brasileira. Há 30 ou 40 anos só a classe mais alta tinha acesso à universidade. Não precisavam de financiamento porque tinham dinheiro próprio.
Hoje, nós precisamos de cientista que joga futebol na praia de Boa Viagem. Precisamos do moleque que está na escola pública. As crianças precisam ter acesso à educação científica, à iniciação científica. O que também implica uma democratização na distribuição de oportunidades e recursos em todo o País. Estamos trabalhando com 21 crianças da periferia de Natal. Elas nem mesmo entraram no ensino médio e já estão sendo incorporadas às linhas de produção de ciência do nosso instituto. Quatro participaram de um projeto piloto em que aprenderam a usar ressonância nuclear magnética de bancada para medir o volume de óleo nas sementes do pinhão-manso do semi-árido nordestino. E classificaram as diferentes sementes de acordo com a quantidade de óleo. Duvido que exista algum técnico na Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) melhor do que essas crianças.
Não precisamos mais de caciques. Precisamos de índios. Devemos investir na massificação dos talentos. Esses moleques vão decidir o que vai ser a nossa ciência. Se chega um jovem muito talentoso que quer investigar besouro, devemos responder: “Está bom, filho. Vai pesquisar besouro.” Eu não investiria em tópicos, em áreas específicas. Eu investiria primordialmente em gente. Porque se você investir em pessoas talentosas, elas encontrarão nichos em que o Brasil terá benefícios tremendos. Nós temos uma das maiores olimpíadas de matemática do mundo, o que comprova que nosso talento matemático é enorme. Mas não dá frutos porque faltam caminhos, oportunidades, veículos…
Acreditamos que devemos escolher o melhor menino. Mas e os outros cem mil que quase ganharam? Precisam de incentivo para continuar. Por isso, eu proponho o bolsa-ciência. É um bolsa-família para garoto que tem talento científico. Não precisa ser gênio. Estou fazendo isso com esses 21 meninos. Os quatro garotos do pinhão-manso recebem mais dinheiro do que o pai e a mãe: uma bolsa de R$ 520 paga por doadores privados. Precisamos investir no caos que é o sistema nervoso. Desta forma, encontraremos caminhos imprevistos, surpresas agradáveis.

Como avaliar mérito na academia?

Nós publicamos mais do que a Suíça. Mas o impacto da ciência suíça é muito maior. Basta ver o número de prêmios Nobel lá. E eles têm apenas cinco milhões de habitantes. Na academia brasileira, as recompensas dependem do que eu chamo de “índice gravitacional de publicação”: quanto mais pesado o currículo, melhor. Ou seja, o cientista precisa colecionar o maior número de publicações – sem importar tanto seu conteúdo. Não pode ser assim. O mérito tem de ser julgado pelo impacto nacional ou internacional de uma pesquisa. Não podemos dizer: quem publica mais, leva o bolo. Porque aí o sujeito começa a publicar em qualquer revista. Não é difícil. A publicação científica é um negócio como qualquer outro. Mesmo se você considerar as revistas de maior impacto. Também não adianta criar e usar um índice numérico de citações (que mede o número de citações dos artigos de um determinado cientista).
Talento não está no número de citações: é imponderável. Meu departamento na Universidade Duke nunca pediu meu índice de citação. Também nunca calculei. Quando sai do Brasil, achei que estava deixando um mundo de lordes da ciência. Fui perguntando nome por nome lá fora. Ninguém conhecia. Ninguém sabia quem era. Críamos uma bolha provinciana que deve ser estourada agora se o Brasil quer dar um salto quântico. Mas as pessoas têm receio de falar com medo de perder o financiamento. Há outras formas de medir o impacto científico: ver o que cara está fazendo e consultar a opinião de pessoas que importam no mundo, dos líderes de cada área. Sob este ponto de vista, o impacto da ciência brasileira é muito baixo. E precisamos dizer isso sem medo. Não dá para esconder o sol com a peneira.
Quando decidem criar um Instituto Nacional (de Ciência e Tecnologia), em vez de dividir o dinheiro entre 30 ou 40 pesquisadores promissores, preferem pulverizar o dinheiro entre 120 cientistas, muitos deles com propostas que não vão chegar a lugar nenhum. Cada um recebe um R$ 1 milhão, uma quantia considerável na opinião de muita gente mas que não paga nem a conta de luz de um projeto bem feito. Não podemos ter receio de selecionar os melhores. Você precisa escolher os bons jogadores, não os pernas-de-pau. Outra coisa: só o Brasil ainda admite cientista por concurso público. Cientista tem de ser admitido por mérito, por julgamento de pares, por entrevista, por compromisso, por plano de trabalho.

Como você se vê na Academia?

Sou um pária. Não tenho o menor receio de falar isso. Sou tolerado. Ninguém chega para mim de frente e fala qualquer coisa. Mas, nos bastidores, é inacreditável a sabotagem de que fomos vítimas aqui em Natal nos últimos oito anos. Mas sobrevivemos. O Brasil é uma obsessão para mim. Há muita gente que não faz e não quer que ninguém faça, pois o status quo está bem. Tenho excelentes amigos na academia do País, respeito profundamente a ciência brasileira. Sou cria de um dos fundadores da neurociência no Brasil, o professor César Timo-Iaria, e neto científico de um prêmio Nobel argentino – Bernardo Alberto Houssay.
Por isso, foi uma triste surpresa os anticorpos que senti quando eu voltei. Algumas pessoas ficaram ofendidas porque não fiz o beija-mão pedindo permissão para fazer ciência na periferia de Natal. Este ano, na avaliação dos Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCTs), tivemos um dos melhores pareceres técnicos da área de biomedicina. E o nosso orçamento foi misteriosamente cortado em 75%. Pedi R$ 7 milhões. Recebemos R$ 1,5 milhão.
Operamos com um sexto do nosso orçamento. As pessoas têm medo de abrir a boca, porque você é engolido pelos pares. Então, eu fico imaginando um pesquisador que volta para o Brasil depois de estudar lá fora. De qualquer forma, o pessoal precisa entender que voltar para o Brasil é assumir um tipo especial de compromisso. Não é ir para Harvard, Yale… Você deve estar disposto a dar seu quinhão para o País porque ele ainda está em construção. Nem tudo vai funcionar como a gente quer. Vejo muita gente egoísta voltando para o Brasil. Os jovens precisam olhar menos para o umbigo e mais para a sociedade.

Qual é o futuro dos jovens pesquisadores no País?

Atualmente, eles têm uma dificuldade tremenda de conseguir dinheiro porque não são pesquisadores 1A do CNPq. Você precisa ser um cardeal da academia para conseguir dinheiro e sobressair. Com um físico da UFPE, cheguei à conclusão de que Albert Einstein não seria pesquisador 1A do CNPq, porque ele não preenche todos os pré-requisitos – número de orientandos de mestrado, de doutorado…
Se Einstein não poderia estar no topo, há algo errado. Minha esperança é que o futuro ministro ataque isso de frente pois, até agora, ninguém teve coragem de bater de frente com o establishment da ciência brasileira. Ninguém teve coragem de chegar lá e dizer: “Chega! Não é assim! A ciência não está devolvendo ao povo brasileiro o investimento do povo na ciência.” Os cientistas brilhantes jovens não têm acesso às benesses que os grandes cardeais – pesquisadores A1 do CNPq – têm, muitos deles sem ter feito muita coisa que valha.
Além disso, veja a situação do Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia (CCT, que assessora o presidente da República nas decisões relacionadas à política científica). O presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC) – agora, um grande matemático – me perdoe, mas ele não deveria ter cadeira cativa nesse conselho. O Brasil deveria ter um conselho de gente que está fazendo ciência mundo afora. E não pessoas que ocupam cargos burocráticos em associações de classe. Deveria ser gente com impacto no mundo. E pessoas jovens com a cabeça aberta. Mas as pessoas têm muita dificuldade de quebrar esses rituais.
Para entender a que me refiro, basta participar de reuniões científicas e acompanhar a composição de uma mesa. Não há nada semelhante em lugar nenhum do mundo: perder três minutos anunciando autoridades e nomeando quem está na mesa. É coisa de cartório português da Idade Média. Cientista é um cidadão comum. Ele não tem de fazer toda essa firula para apresentar o que está fazendo. É um desperdício de energia, uma pompa completamente desnecessária. Muitas vezes, os pesquisadores jovens não podem abrir a boca diante dos cientistas mais velhos. Eu ouço isso em todo o Brasil.
No meu departamento nos Estados Unidos, sou professor titular há quase doze anos. Minha voz não vale mais que a de qualquer outro que acabou de chegar. Qualquer um pode me interpelar a qualquer momento. Qualquer um pode reclamar de qualquer coisa. Qualquer um pode fazer qualquer pergunta. E ninguém me chama de professor Nicolelis. Meu nome lá é Miguel. Por quê? Porque o cientista é algo comum na sociedade. O meu estado (a Carolina do Norte) possui uma das maiores densidades de PhD na população dos EUA. Se você se comportar como um pavão lá, vai se dar mal. Todo mundo tem pelo menos um PhD.
Aqui, precisamos colocar a molecada da periferia de Natal, de Rio Branco e de Macapá na ABC, por mérito. Às vezes, parece que existe uma igreja chamada Ciência no País. Se você não é um membro certificado, ela é impenetrável. Minhas críticas não são pessoais. Quero que o Brasil seja uma potência científica para o bem da humanidade. As pessoas precisam ver que a juventude científica brasileira está de mãos atadas. Precisamos libertar este povo. Já estou no terço final da minha carreira científica. O que me resta é ajudar essa molecada a fazer o melhor.

Você tem uma opinião bastante crítica sobre a política científica no País. Mas, na eleição, manifestou apoio publicamente à Dilma. Por quê?

Porque a outra opção era trágica. Basta olhar para o Estado de São Paulo: para a educação, a saúde e as universidades públicas. Não preciso falar mais nada. Eu adoro a USP, onde me formei. Mas a liderança que temos hoje na USP é terrível. O reitor da USP (João Grandino Rodas) é uma pessoa de pouca visão. Não chega nem perto da tradição das pessoas que passaram por aquele lugar. São Paulo acabou de perder um investimento de 150 milhões de francos suíços (cerca de R$ 270 milhões) porque o reitor da USP não tinha tempo para receber a delegação de mais alto nível já enviada pelo governo suíço ao Brasil. Mandaram o pró-reitor de pesquisa da universidade (Marco Antônio Zago) fazer uma apresentação para eles. Ninguém agradeceu a visita. Manifestei oficialmente ao professor Zago minha indignação como ex-aluno da USP.
Um dos integrantes da delegação suíça doou um super-computador de US$ 20 milhões de dólares (cerca de R$ 34 milhões) para nosso instituto em Natal. Chegou na semana passada e será um dos mais velozes do Brasil. Não pagamos um centavo. Não há mais espaço para provincianismo na ciência mundial. Nas reuniões que eu presenciei com comitês e comissões de outros países, a tônica da Fapesp sempre foi assim: “Fora de São Paulo não existe ciência que valha a pena investir”. Esse tipo de coisa é muito mal visto pelos estrangeiros. Não há mais lugar para regionalismo, preconceito… É ótimo para São Paulo ser responsável por 70% da produção científica do País, mas é muito ruim para o País, que precisa democratizar o acesso à ciência. Não adianta dizer em reuniões com emissários internacionais que São Paulo tem uma “relação amistosa” com o Brasil, este outro País fora das fronteiras do Estado. Este bairrismo não ajuda em nada.
A Fapesp é uma jóia, um ícone nacional, reconhecida no mundo inteiro. Mas isso não quer dizer que as últimas administrações foram boas. Temos de ser críticos. Esta última administração, em especial, foi muito ruim. A Fapesp está perdendo importância. Veja só: a Science (no artigo publicado há algumas semanas sobre a ciência no Brasil) não dedicou uma linha à Fapesp. Que surpresas você vê saindo da ciência de São Paulo? Acho que a matéria da Science foi uma boa chamada para acordar, para sair dos louros, descer do salto alto e ver o que podemos fazer com os R$ 500 milhões anuais da Fapesp. Ah, se eu tivesse um orçamento assim! Temos muito menos e posso dizer para o diretor-científico da Fapesp (Carlos Henrique de Brito Cruz) que nós saímos na Science. E ele tem condição de investir nos melhores centros de pesquisa do País.

Como você avalia o governo Lula?

Apoiei e apoio incondicionalmente o presidente Lula porque vivemos hoje o melhor momento da história do País. A proposta global de inclusão do governo Lula – e espero que será a mesma com a Dilma – é aquela que eu acredito. Contudo, os detalhes devem ser corrigidos. Admiro profundamente o ministro da Ciência e Tecnologia, Sérgio Rezende. Tivemos grandes avanços como a criação dos INCTs e dos fundos setoriais. Mas o ministro não enfrentou a estrutura.
Talvez não pudesse… por não ter condições práticas ou por fazer parte dela, por ter crescido nela. Em oito anos, nunca fui chamado para dar uma opinião no MCT ou para apresentar os resultados do projeto de Natal. Sei que outros cientistas, melhores do que eu, também não foram chamados. É curioso. Mas fui chamado pelo Ministério da Educação. O ministro (Fernando Haddad) é o melhor já tivemos na história da República. Ele criou a infraestrutura que será lembrada daqui a 50 anos como a reviravolta da educação brasileira. Com o Haddad eu consigo conversar e nossa parceria está dando resultados.

O que você achou da escolha de Aloizio Mercadante para o MCT?

Estou curioso para saber qual é o currículo dele para gestão científica. Fiquei surpreso com a indicação, mas não o conheço. Não tenho a mínima ideia do seu grau de competência. Mas não fica bem para a ciência brasileira – um ministério tão importante – virar prêmio de consolação para quem perdeu a eleição. Não é uma boa mensagem. Mas talvez seja bom que o futuro ministro não seja um cientista de bancada, alguém ligado à comunidade científica. Assim, se ele tiver determinação política, poderá quebrar os vícios.
O primeiro ministro da Ciência e Tecnologia (Renato Archer, que permaneceu no cargo de 1985 a 1987) não era cientista e foi talvez um dos melhores gestores que já tivemos. Ele tinha consciência de que seu ministério era estratégico. O MCT estabelece parcerias e tem impacto na ação de outros ministérios: Educação, Saúde, Indústria e Comércio, Relações Exteriores, Agricultura, Meio Ambiente… Hoje, boa parte do orçamento do ministério não é nem executado. As agências de financiamento não têm uma rotina de chamadas. Não podemos continuar como está.

Fonte: http://www.viomundo.com.br/voce-escreve/nicolelis-diz-que-sofreu-sabotagem-nos-bastidores.html

Alerta:"A doença da violência política"

Por Paul Krugman
Publicado em: 09 de janeiro de 2011

Quando você ouviu a terrível notícia do Arizona, você estava completamente surpreso? Ou você estava, em algum nível, esperando algo parecido com essa atrocidade acontecer?
Ponha-me na última categoria. Eu tive uma sensação de mal estar na boca do meu estômago já desde a fase final do 2008 da campanha. Lembrei-me do surto de ódio político depois da eleição de Bill Clinton em 1992 - um aumento que culminou no atentado de Oklahoma City. E você pode ver, apenas observando as multidões em comícios de McCain-Palin, que estava prestes a acontecer novamente. O Departamento de Segurança Nacional chegaram à mesma conclusão: em abril de 2009, um interno relatório advertiu que o extremismo de direita da asa estava em ascensão, com um crescente potencial para a violência.
Os conservadores denunciaram o relatório. Mas houve, de fato, uma crescente onda de ameaças e atos de vandalismo que visa funcionários eleitos, incluindo tanto o juiz João Rolo, que foi morto sábado, e Gabrielle Giffords Representante. Um destes dias, alguém foi obrigado a levá-la ao próximo nível. E agora alguém.
É verdade que o atirador no Arizona parece ter sido mentalmente perturbado. Mas isso não significa que seu ato pode ou deve ser tratado como um evento isolado, não tendo nada a ver com o clima nacional.
Última Primavera Politico.com informou sobre um aumento nas ameaças contra membros do Congresso, que já estavam em 300 por cento. Um certo número de pessoas fazendo essas ameaças tinham um histórico de doença mental - mas algo sobre o estado atual da América tem causado muito mais pessoas perturbadas do que antes de agir a sua doença, ameaçando, ou realmente exercer a violência política.
E não há muita pergunta o que mudou. Como Clarence Dupnik, o xerife responsável por lidar com os tiroteios do Arizona, afirmou, é "a retórica virulenta que ouvimos dia a dia das pessoas no negócio de rádio e algumas pessoas no negócio de TV." A grande maioria desses que ouvir que a retórica tóxicos curta paragem de violência real, mas alguns, inevitavelmente cruzar essa linha.
É importante deixar claro aqui sobre a natureza da nossa doença. Não é uma falta geral de "civilidade", o termo favorito dos especialistas que querem escamotear divergências políticas fundamentais. A polidez pode ser uma virtude, mas há uma grande diferença entre os maus modos, e solicita, explícito ou implícito, para a violência, e os insultos não são a mesma incitação.
O ponto é que há espaço na democracia para as pessoas que ridicularizam e denunciar aqueles que não concordam com eles, não há nenhum lugar para a retórica eliminacionistas, pelas sugestões que aqueles do outro lado do debate deve ser removido do debate que, por qualquer os meios necessários.
E é a saturação do nosso discurso político - e especialmente os nossos ondas - com a retórica eliminacionistas que está por trás da crescente onda de violência.
Onde é que a retórica tóxicos provenientes? Não vamos fazer uma falsa pretensão de equilíbrio: ela vem, sobremaneira, a partir da direita. É difícil imaginar que um membro do Congresso pedindo componentes que serão "armado e perigoso", sem ser condenado ao ostracismo, mas Representante Michele Bachmann, que fez exatamente isso, é uma estrela em ascensão no Partido Republicano
E há um grande contraste na mídia. Ouça a Rachel Maddow ou Keith Olbermann, e você vai ouvir um monte de observações cáusticas e zombaria visando republicanos. Mas você não vai ouvir piadas sobre o tiro do governo ou a decapitação de um jornalista do The Washington Post. Ouça a Glenn Beck ou Bill O'Reilly, e você vai.
Claro, os gostos de Beck e Sr. O'Reilly estão respondendo à demanda popular. Cidadãos de outras democracias podem maravilhar-se com a psique americana, em meio aos esforços pelos presidentes liberais levemente para expandir a cobertura de saúde são recebidos com gritos de tirania e falar da resistência armada. Ainda assim, é o que acontece sempre que um democrata ocupe a Casa Branca, e há um mercado para qualquer pessoa disposta a atiçar a ira.
Mas mesmo que o ódio é o que muitos querem ouvir, que não desculpa os que cedem a esse desejo. Eles devem ser evitados por todas as pessoas decentes.
Infelizmente, isso não vem acontecendo: os disseminadores do ódio têm sido tratados com respeito, mesmo deferência, pela criação do Partido Republicano. Como David Frum, ex-redator de discursos de Bush, colocou, "os republicanos se pensava inicialmente que a Fox trabalhou para nós e agora estamos descobrindo que o trabalho para a Fox".
Assim o massacre Arizona fazer o nosso discurso menos tóxicos? É realmente até os líderes do Partido Republicano. Será que eles vão aceitar a realidade do que está acontecendo para a América, e tomar uma posição contra a retórica eliminacionistas? Ou será que eles tentam negar provimento ao massacre como o simples ato de um indivíduo perturbado, e continuar como antes?
Se Arizona promove alguns reais a procura da alma, poderá ser um ponto de viragem. Se isso não acontecer, atrocidade sábado será apenas o começo.

Link para ir ao original:
http://www.nytimes.com/2011/01/10/opinion/10krugman.html?src=un&feedurl=http%3A%2F%2Fjson8.nytimes.com%2Fpages%2Fopinion%2Findex.jsonp